Estava sentado estudando e lidando com as atividades do trabalho, com a mesa tomada por materiais de estudo. Meu filho, sentou-se junto a mim, puxando conversa e acabei não dando muita atenção porque estava preocupado em terminar as atividades do ofício. Foi quando em um momento ele disse:
-Pai, fica quieto que vou te desenhar!
Olhei para ele sorri e permaneci quieto e centrado nos afazeres. Passado algum tempo ele me apresentou o resultado do seu desenho, de sua obra de arte. Fiquei feliz pelo resultado do seu esforço. Mas confesso que ao olhar para o desenho, lá, no fundo, uma voz gritou: “está desconfigurado”! E num processo de racionalização duvidei, será que estou desconfigurado? Pois bem, esse desenho me fez refletir e esse é o motivo que partilho com vocês dessa experiência, pois, muitas vezes não percebemos o quanto estamos desconfigurados.
Talvez, somente uma criança em sua inocência e na sua pureza consegue captar nossa realidade de desconfiguração e pode nos levar ao processo de ressignificação. Muitas vezes quando é um adulto que nos fala da nossa desconfiguração, nos irritamos, ficamos bravos e até “quebramos o pau”. Embora isso seja um elemento que mostre-nos o quão estamos realmente desconfigurados.
Sabemos o quanto é chato, irritante, trabalhoso, cansativo, lidar com computadores, celulares, utensílios tecnológicos desconfigurados. Numa analogia conosco, uma pessoa, que está desconfigurada, torna-se em muitas vezes um fardo para quem está a seu redor. Não se trata aqui de culpá-la ou não. Um aparelho celular, já vem configurado de fábrica, caso não tenha erros de fabricação. Ele não se desconfigura sozinho, é o uso que fazemos dele que irá desconfigurá-lo ou aperfeiçoá-lo.
Assim também somos nós. Nascemos, e à medida que vamos nos relacionando, nos configurando, criando nossa personalidade, a partir de pessoas que estão ao nosso redor e sobre qual temos afeições. Contudo, a realidade em que vivemos nos desconfigura diariamente. Podemos ser desconfigurados pelo trabalho, pelas relações sociais, nossas ideologias, traumas, pela situação política que estamos passando, enfim, há vários elementos que nos desconfiguram. Nos desconfiguramos de nossa humanidade. Passamos uma vida toda nos humanizando e corremos constantemente o risco de tornamo-nos desumano a partir do momento em que não nos damos conta de nossa desconfiguração.
A ciência tecnológica tem a solução imediata quando se trata de uma desconfiguração eletrônica. Humanamente somos diferentes, para configuramos precisamos de muita reflexão, força de vontade e o maior de todos, cultivar o amor para conosco e para com o próximo. Os cristãos no natal celebram o nascimento do menino Jesus numa manjedoura em Belém. Essa criança continua sendo o protótipo mais seguro para nos configuramos, pois nela está expressa toda nossa humanidade. “Ele foi tão humano que só podia ser divino”. Nele se expressa o rosto divino do homem e o rosto humano de Deus. Nesse Natal convido-lhes a configurarmos no Menino Jesus em nossas vidas.
Um abençoado Natal e Boas festas!
Alex Durães Barbosa